O princípio do fim?

Nas duas últimas semanas, a comunidade bloguística almeirinense teve conhecimento de um conjunto de cartas (até à presente data, três). Duas delas, do professor João Renato para o Presidente da Câmara; a outra, fez o caminho inverso.

Em primeiro lugar, e antes de tentar tecer alguns (poucos) comentários ao teor das ditas, quero dizer que a publicitação destas cartas poderia (e deveria) ser evitada. O conhecimento, por parte da população, das mesmas, só cavar ainda mais o fosso entre os eleitores e os eleitos. O dirrimir argumentos na praça pública, em vez de esclarecer, só vem trazer mais confusão. E acima de tudo, estes dois senhores que, apesar de possuirem formação académica superior, portaram-se como, e perdoem-me a expressão, duas crianças mimadas.

Depois deste considerando, vamos aos factos. Que é, como quem diz, vamos às cartas.

Comparar o modo de actuação de pessoas que, em tempos diferentes, dirigiram os destinos do nosso concelho é uma tarefa complicada. Mas o professor João Renato tem uma vantagem. Sabe do que fala, porque foi vereador (embora na oposição) de Alfredo Calado e de Sousa Gomes. Conhece as duas formas de dirigir e de gerir uma autarquia.

Agora, acho que excedeu os limites do razoável, ao referir-se a pessoas em concreto. Todos nós sabemos como funciona esta coisa da "cunha". Então, quando se está no poder há quase vinte anos... Por isso mesmo, o Presidente da Câmara respondeu (lamentavelmente) à letra. E aumentou a parada, fazendo referência àquele que, segundo ele, é o "campeão das cunhas": o Dr. Armindo Bento. Os mais atentos a estas coisas da política sabem que a relação entre ambos já teve melhores dias. Mas, afirmar publicamente aquilo que afirmou é, no mínimo, quebrar laços de solidariedade institucional entre os representantes máximos de dois órgãos autárquicos, para não falar na cumplicidade e na amizade de muitos anos (note-se que não sou defensor do Dr. Armindo Bento; apenas estou a constatar factos).

O mesmo se aplica àquilo que afirmou do seu ex-número dois, o vereador Francisco Maurício. Em 2005, ele aparecia ao seu lado num cartaz. Agora, já é correlegionário político do professor João Renato, que é o mesmo que dizer "comunista"! Foi bom para tentar "roubar" votos à esquerda, mas agora deixou de servir os seus interesses... Mais uma vez, falta de solidariedade institucional para com um vereador do seu executivo que, por sinal, foi eleito na mesma lista.

Depois de ontem ter escrito estas linhas, hoje tive conhecimento de mais uma acha para a fogueira. Nada que me surpreendesse, depois daquilo que o Presidente da Câmara afirmou do seu camarada Armindo Bento.

A era Sousa Gomes à frente da autarquia pode estar a chegar ao fim. Aquele que foi um dos seus pilares para as sucessivas vitórias bateu com a porta. Agora, com ele, só estão aqueles que permanecem agarrados ao poder, ao prestígio e aos dividendos que a política lhe possa dar. Ou aqueles que sonham em ocupar o seu lugar. Como aconteceu com o Estado Novo, que apodreceu por dentro e foi derrubado por aqueles que o serviam, também este reinado cairá por motivos endógenos. Resta só saber quando.